Era uma vez uma borboleta azul.
Não era uma linda borboleta azul, porque não era assim mais bela do que qualquer de suas irmãs. Era só mais uma borboleta azul e, como todas elas, era linda.
Um dia, a borboleta entrou pela janela de uma casa e visitou um menino.
O menino olhava para ela maravilhado com seu vôo, com suas cores.
E nas semanas que se seguiram, ela iria revisitá-lo muitas e muitas vezes pois, sem perceber, se apaixonara por ele.
Em cada visita sua, a borboletinha fazia uma acrobacia diferente, batia suas asas contra o vento, e se cansava muito para divertí-lo.
Nos dias chuvosos, ela corria por baixo da copa das árvores para chegar até a janela do menino, a cada movimento lutando para que num descaso não perdesse sua própria vida.
Mas eis que então, num desses dias em que se havia arriscado para voar até ele, o menino fechou a janela antes que ela pudesse entrar, e sentou-se para ler um livro.
Ela, sem poder comunicar-se ou com sua mente de borboleta entender o que se passava, permaneceu ali, flutuando em frente à janela cerrada enquanto a chuva ficava mais e mais forte.
Eventualmente, as gotas d'água foram atingindo-a.
Eventualmente, o cansaço e o peso em suas asas foram vencendo seu pequeno corpo.
Obrigada, ela pousou por uma vez no parapeito encharcado da janela.
E já sem forças para sustentar mais que seu último desejo de vê-lo, ali submergiu.
Sem despertar nem paixão, nem lamento.
No menino que, quieto, observava.
Uma linda borboleta azul.