Ao acaso nossas ruas cruzaram naquele dia. Conta-se que nada chamava mais atenção que o brilho da tua pele dourada e teus olhos, cintilantes, como o raro cristal esmeralda dos brincos pesados alongando levemente os lóbulos da tua orelha.
Fôstes, como eu, comprar pães fresquinhos e cantarolavas aquela minha canção favorita enquanto fazias agrado ao cãozinho do dono da padaria. Mais à tarde, um sobrinho cruzou a rua gritando meu nome e você, que estava a visitar minha vizinha, achou graça, rindo disfarçadamente com aqueles lábios de mel que encantavam a paisagem, como o teu doce perfume enfeitiçava o ar.
Porém aquele dia, como todos que se passaram, foi um dia de solidão.
Nos vimos, talvez por estarmos próximos, mas não chegamos a trocar olhares. Quem sabe nos ouvimos, mas perderam-se os nossos sons entre tantos outros, e se podíamos sentir a fragância um do outro, as tomamos pelo aroma agradável das flores no jardim.
E à noite dormimos tristes, outra vez imaginando onde estávamos nesse mundo enorme sem nos conhecermos.
Ainda espero que, quando leres isto, possas rir. Mas cada dia tem sido assim e a angústia corróe-me as esperanças como uma falta de ar que impede a própria vida. Essa fome de amor! Faz necessário nutrir-me da sua presença e da sua existência. Antes que eu enlouqueça, exista! Por favor, exista.