Ao acaso nossas ruas cruzaram naquele dia. Conta-se que nada chamava mais atenção que o brilho da tua pele dourada e teus olhos, cintilantes, como o raro cristal esmeralda dos brincos pesados alongando levemente os lóbulos da tua orelha.
Fôstes, como eu, comprar pães fresquinhos e cantarolavas aquela minha canção favorita enquanto fazias agrado ao cãozinho do dono da padaria. Mais à tarde, um sobrinho cruzou a rua gritando meu nome e você, que estava a visitar minha vizinha, achou graça, rindo disfarçadamente com aqueles lábios de mel que encantavam a paisagem, como o teu doce perfume enfeitiçava o ar.
Porém aquele dia, como todos que se passaram, foi um dia de solidão.
Nos vimos, talvez por estarmos próximos, mas não chegamos a trocar olhares. Quem sabe nos ouvimos, mas perderam-se os nossos sons entre tantos outros, e se podíamos sentir a fragância um do outro, as tomamos pelo aroma agradável das flores no jardim.
E à noite dormimos tristes, outra vez imaginando onde estávamos nesse mundo enorme sem nos conhecermos.
Ainda espero que, quando leres isto, possas rir. Mas cada dia tem sido assim e a angústia corróe-me as esperanças como uma falta de ar que impede a própria vida. Essa fome de amor! Faz necessário nutrir-me da sua presença e da sua existência. Antes que eu enlouqueça, exista! Por favor, exista.
Já que puxaram o tópico (na lista-
cecm), "duas linhas" sobre cada palavra só pra ter assunto no próximo almoço...
Universidade:
qualquer pessoa que parar para pensar no sentido estrito das palavras "universidade democrática" vai ver que seu conteúdo é nulo; o que quer-se dizer muitas vezes é "universidade pública", mas acontece que essa "já existe", e "universidade DE FATO pública" não cola como slogan de marketing, daí criou-se a "universidade democrática", e aí degenerou-se o sentido disso nessas histórias de "eleição paritária para reitor" e outras coisas que não tem nada a ver com democracia, nem com universidade.
outra coisa crucial na discussão da universidade, e que é via de regra esquecida, é que universalizar o acesso à universidade não significa de maneira alguma colocar todo mundo em salas de aula.
Meritocracia:
essa questão se encontra com a autonomia universitária; na pesquisa brasileira, tudo que não é acertado com o poder político anda a passos de elefantinho ou a sacrifícios individuais, porque há amarras demais que entram em conflito direto com a dinamicidade intrínsica da pesquisa científica; sem autonomia o mérito está condenado às gavetas.
e quando fala-se de autonomia universitária, lembremos sempre da igualmente importante autonomia das agências de fomento, porque se toda vez que o governo quiser enfiar algo goela abaixo das
universidades ele puder utilizar, como sempre utilizou e continua utilizando, o famoso "agora o CNPQ e CAPES só vão dar bolsa pra quem obedecer nossas regrinhas", não adianta porra nenhuma ter 'autonomia'.
Democracia:
num comentário à moda DF: "democracia representativa não tem invariância de escala"; isto é, ou a democracia é direta, ou torna-se apenas uma oligarquia um pouquinho mais controlada, independente de quão ilustrada é a população - e diga-se de passagem, cada vez menos controlada à medida que as dimensões da unidade federativa aumenta, o que torna crítico o caso brasileiro - isso é uma daquelas coisas óbvias para as quais erguem-se enormes muros culturais a fim de que ninguém as perceba.
Ni!